Palmtop à mão, ele tocou o
interfone.
Uma rouca voz feminina
atendeu.
Sim?
É do IBGE, ele grunhiu,
somente algumas rápidas perguntas pro censo. Posso entrar? Não vai demorar...
Não pode voltar noutra
hora? Noutro dia?
Senhora, seria bom resolver
isso agora mesmo...
Minhas respostas não farão
a menor falta, minha vida não pode interessar tanto assim ao governo...
Todo e qualquer cidadão é
importante pra nós do governo, precisamos dos seus dados pra... Se quiser, faço as
perguntas pelo interfone mesmo...
Tudo bem, se esse é o seu
trabalho, bisbilhotar a vida alheia em nome do governo, suba, não vou me opor,
responderei a suas breves perguntas olhando bem nos seus olhos...
Um seco estalido anunciou
que o portão automático fora destravado.
Ele subiu a escada
apressadamente, mas não deixou de reparar que havia câmeras de monitoramento
por todo lado. E um jardim amplo, gramado. E uma piscina cuja água azul
reluzia. Tudo limpo. Mas não viu um empregado sequer.
Eram quatro da tarde. Ele tinha
muitas residências ainda antes de completar o ciclo de coleta de dados naquele
bairro. Ele recebia por produção. Aquele era um bairro de classe média alta, as
pessoas eram desconfiadas, com medo de assaltos, sequestros, o serviço não rendia, muitas
vezes precisava insistir e agendar.
E demorou.
Demorou muito.
Arre égua!
Ele desceu as escadas,
cambaleante, suando, com as pernas bambas.
O que era aquilo? Isso era uma mulher?
Na calçada em frente se
recompôs. Ajeitou os cabelos, a calça, o colete azul. Olhou em direção às câmeras. Alisou mais uma vez o cabelo. O cabelo ainda estava desarrumado, bagunçado demais.
O sol já se punha.
Andou em direção à esquina.
Não, precisava voltar, ainda
tinha outra casa antes da quadra seguinte.
Pôs a mão no bolso do
colete.
Puta que pariu!
Cadê o palmtop? Vou ter de
voltar lá?!
Sim?
A mesma voz rouca no interfone.
Eu precisava...
A voz dele saiu embargada.
A patroa está viajando! Volte mês que vem, seu puto, quando ela já tiver retornado...!
Sim?
A mesma voz rouca no interfone.
Eu precisava...
A voz dele saiu embargada.
A patroa está viajando! Volte mês que vem, seu puto, quando ela já tiver retornado...!
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