domingo, 5 de agosto de 2012

Meu amor à prova de antivírus - 3ª parte


              Juca,

            Machado de Assis por certo que tinha razão ao anunciar ao vencedor as batatas, mas no seu caso deveria ser ao vencedor as bocetas, falo isso porque, como você não toma coragem (e juízo, e vergonha na cara e sensibilidade) de me contar suas últimas conquistas amorosas por meio do caminho mais curto, a internet, falo da Piu-piu (aquela loira bombada) e também da Red Apple (a ruivinha metida a intelectual, poetisa e o escambal), eu resolvi pôr o dedo na ferida e tocar no assunto, já que pior que esse seu silêncio sufocante não vai ficar, já que você, agora que reside na sua bolha erótica e agora (justo agora) os ventos da conquista enfunaram suas velas (e também sua rola), me brindou com seu desdém, agora que resolveu não mais cuspir e gozar naquela que já comeu, então eu resolvi aproveitar o ensejo, a deixa que você não me deu e dizer que tudo bem, mesmo que não me pediu desculpas, mesmo assim eu te perdoo, não tem nada não, nosso caso é diferente, não fizemos juras de amor e sim juras de amizade, que é muito mais que amor, esse pseudo sentimento inventado pelo cristianismo e pelo romantismo, essas escolas escrotas que só souberam deturpar e mascarar a verdadeira essência da humanidade.

            Pode continuar suas aventuras no seio da internet, isso não me ofende, já que nunca lhe cobrei fidelidade. E se esses relacionamentos, como o nosso, saírem do mundo online e se tornarem realidade, então que sejam eternos enquanto durem, e pra você deixo meu recado, meu não, de Machado de Assis, Grande Lascivo, espera-te a voluptuosidade do Nada!

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             Lena,

            Lena, Lena, minha gatinha levada, pare de rosnar, caso contrário se transformará numa criatura híbrida, feia, repulsiva, etc etc, não é assim que as coisas funcionam, não fale sobre o que você não sabe, meu bem. O período em que caí convalescente foi de grande serventia para mim, me fez refletir em tudo o que tem acontecido em minha vida, e, para minha surpresa, era exatamente o que não deveria ter acontecido, isso tudo, entre mim e ti, surtiu um efeito indesejado, efeitos colaterais diversos, e o mais preocupante é essa ideia que se apossou do meu ser em que penso ser possível e estar ao meu alcance qualquer tipo de conquista, seja ela no campo amoroso ou no profissional. No campo profissional, e isso você não mencionou, minha carreira literária de repente deslanchou. Digo carreira, mas acho que dizer que venci, enfim, um concurso literário, concurso de contos da Playboy, que recebi de prêmio um “automóvel último modelo e que anda comigo apinhado de pândegos e de putas” (Fernando Pessoa), acho que isso não é exatamente uma carreira literária, todavia as coisas estavam indo, FINALMENTE,  às maravilhas, conforme havia um dia sonhado, mas não é assim que penso hoje; no campo amoroso, como já sabe, surgiram a Piu-piu, advogada paulista, que não sei como descobriu meu e-mail e atamos, então, de imediato, sem meias e sem peias, um relacionamento sem compromissos, sexo casual, já que ela tem clientes em Campo Grande, embora atue mais em São Paulo, mas já passou, foi eterno enquanto durou, ela está em outra, digo outro, acho que não gostou da divulgação do meu nome na mídia, e ficou com medo (do marido?) de ficar com sua imagem associada a um escritor de contos eróticos, enfim, depois a Red Apple, essa ruivinha me deu mais trabalho, no bom sentido, no bom sentido pra mim, no caso, porque a garota realmente fazia jus a lenda de que as ruivas são depravadas e fornicadoras, o que foi gostoso por certo período, porém depois de uns dias seguidos com ela querendo todo santo dia, pedindo mais e mais e mais, puta merda, foi a gota d’agua, o fim da picada, ou o fim da minha pica, que se afinou, encolheu, eu não quis mais, perdeu o encanto, essas coisas se desgastam depois de certos anos de uso, sabia? Pois é, disso tudo concluo que a minha vida deu uma guinada de 360° como se diz por aí, e, o mais importante, perdi minha paz de espírito, ando agora dando entrevistas (recebi outro prêmio essa semana noutro concurso bem prestigiado de contos lá do Paraná, concurso Paulo Leminski, que me rendeu boa grana também) e teve, inclusive, gente me seguindo para me fotografar, vê se pode, até taxista já me reconheceu... Lena, não quero isso pra minha vida, essa azaração, para usar um termo mais moderno, essa curtição pra mim já deu o que tinha que dar, não posso ficar nessa por mais tempo, não aguento mais, então essa é a principal razão da minha sumida, do meu “silêncio eloquente”, já que essa sucessão de fatos e acontecimentos me envolveu por completo. Não quero mais, sinto muito. Não digo adeus porque não é definitivo. Não digo adeus porque permanecerá a amizade, a qual era a principal razão de nosso envolvimento. No entanto, pra continuar no terreno da contradição: Adeus!

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