Quando eu tinha treze anos, arrumei uma namorada. Paixão ao
primeiro sorriso direcionado à minha mirradinha pessoa. E ela também
correspondeu ao encanto, ficou deveras enamorada por mim, naqueles dias.
Entretanto ela não gostava de namorar comigo. Somente me namorava quando
ficávamos a sós, escondidos. Aí sim, aproveitávamos. Eu lhe contava umas
historinhas, todas inventadas, evidente, lhe falava dos filmes que passavam na
televisão, filmes do impressionante Robocop, do Rambo, Superman, etc, das
telenovelas, novela Tieta, Irmãos Coragem, O Outro, e narrava as brincadeiras
com os meninos e as meninas da cidade, das nossas artimanhas para ludibriar as
mães, como roubávamos ameixa da vizinhança, como era gostoso brincar no
parquinho com todas aquelas parafernálias, instrumentos do divertimento, modernas
ferramentas para divertir feitas a ferro fundido, lhe contava dos jogos de
futebol na quadra coberta, dos tropicões nos paralelepípedos, que, à noite, precisávamos
trancar as portas com medo de eventuais assaltos. Ela morava na roça. Lá, não
havia televisão, parquinho, quadras cobertas, ruas com calçamento, ladrões...
Lá, roubar ameixa não tinha graça, lá, as ameixas apodreciam em todos os
pomares. Fartura. Porém, ela sabia, e eu
sabia que ela sabia, que lá em casa também não havia televisão. Ela havia
reparado nas minhas calças de brim pra lá de velhas e nos meus chinelos de dedos.
Era por causa dos meus chinelos de dedos e das minhas calças de brim puídas que
ela somente me namorava às escondidas. Ela contava pras amigas que namorava um
garoto da cidade, e, na teoria, garotos de cidade não andavam por aí de
chinelos de dedos e calças de brim desgastadas. Certo dia, lhe pedi um beijo.
Ela trovejou “só se tu me deres um laka como fazem num comercial da tevê”. Não foi preciso me dizer que o pai dela comprara
uma televisão. Eu deduzi que perdera, além do beijo, a namorada. Culpa da
televisão.
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