quarta-feira, 23 de maio de 2012

coroação

Meu irmão disse "só saio daqui se puder tomar uma coca hoje". "Hoje é dia de festas". Isso foi no dia de finados, no cemitério, e meu irmão havia deitado em cima do túmulo da Mãe. Disse também "vou ser a coroa de espinhos da Mãe". Pai corrigiu "coroa de flores". Meu irmão teimava "coroa de espinhos". Pai pagou uma coca no bolicho. Meu irmão fazia estágio de chantagista. Pai comprou também bolitas, a pedido de meu irmão, embora relutasse. Meu irmão disse "vidro velho reciclado". Meu Pai "bolita". Meu irmão "vidro velho reciclado". Meu irmão fazia progressos no estágio. Outro dia meu irmão disse "estátua de anjinho de cemitério é que deve ser feliz". Eu discordei "não toma uma coca em dia de festas". Meu irmão concluiu "nem joga vidro velho reciclado". Ele disse isso foi no dia em que vovó morreu. Meu irmão estava com ciúmes de mim porque Pai me incumbira de levar, à frente do caixão e do séquito, a coroa de flores enviada pelo Prefeito. Segundo meu irmão, carregar coroa de flores à frente do caixão e do séquito era honraria demais para um energúmeno feito eu.

Nenhum comentário:

Postar um comentário