Há muitos anos, onde eu morava
naquela época, havia dois lugares para meninos se banharem, mergulharem, darem piruetas
no ar e depois caírem de ponta na água: o arroio Dançarino, para os meninos
pobrezinhos, e, para os garotos riquinhos, a Sociedade Recreativa Lago Azul,
vulga piscina. Eu, menino pobrezinho, muitas vezes, tive inveja, para não dizer
raiva, dos garotos riquinhos que podiam se divertir no Templo da Recreação, a
Piscina. Mas, quando os garotinhos ricos se enfastiavam daquela monotonia azul,
sem correntezas, sem incertezas, vinham se alegrar com os meninos pobres nas
águas do Dançarino. E o Dançarino, ah, sim o Dançarino sempre os acolhia com
júbilo, pois, como ele mesmo me cochichava, eles, os meninos ricos, também eram
filhos de Deus e mereciam certas dádivas. Hoje, dou Graças por não ter
mergulhado naquelas águas cheias de cloro. O cloro poderia corroer a singeleza
do meu espírito.
Meu irmão pensava de outro modo: - Por causa do Dançarino, minhas
cuecas estão sempre encardidas!
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